ARTIGO: As mudanças de pensamento na saúde mental


As mudanças de pensamento na saúde mental

Dentre os princípios que regem a Enfermagem, destaca-se a responsabilidade de se solidarizar com as pessoas, os grupos, as famílias e as comunidades, objetivando a cooperação mútua entre os indivíduos na conservação e na manutenção da saúde. (MIRANDA, 1999)

Logo após o surgimento da Enfermagem Psiquiátrica, o cuidar significava a sujeição dos internos às barbaridades dos guardas e carcereiros. Os maus tratos, a vigilância, a punição e a repressão faziam parte dos tratamentos preconizados e, geralmente eram aplicados pelos profissionais de “Enfermagem”. (RODRIGUES, 1999)

Observando a complexidade dos transtornos psiquiátricos e suas influências na vida das pessoas, cada vez mais tem sido reconhecida a relevância das práticas assistenciais em saúde mental, com a atuação de diversos profissionais de saúde, que atuam em âmbito interdisciplinar com vistas a melhoria da qualidade de vida dos portadores de transtorno mental.

No âmbito da saúde mental, a assistência não deve ser voltada somente para a remissão de sintomas clássicos dos transtornos. O termo ‘doentes mentais’ é substituído por ‘portador de transtornos mentais’ ou sujeito com ‘sofrimento psíquico’, que merece ser atendido nas suas necessidades psicossociais.

Isso requer a adoção de instrumentos, como o relacionamento interpessoal e a comunicação terapêutica, considerando o uso da criatividade, flexibilidade com objetivo de aumento de habilidades e desenvolvimento da autonomia do usuário. A noção de ‘cura’ é substituída pela busca por reabilitação e reinserção social. Para tanto, a escuta e a valorização da pessoa que possui esse tipo de sofrimento, sem manter meios físicos e químicos coercitivos, tornam-se fundamentais.

Tais mudanças nas concepções do cuidado ao portador de transtorno mental emergem a necessidade de rever o objeto de trabalho - constituir o sujeito como cidadão, a prática - utilizar-se de novos instrumentos e com isso ampliar sua possibilidade de intervenção, e, ampliar a finalidade da assistência - para além da remissão dos sintomas manifestos, os quais foram contemplados na Reforma Psiquiátrica com a Lei n.10.216 de 06 de abril de 2001. (CAMPOS, 1998)

Para saber mais sobre a Reforma Psiquiátrica acesse a atualização intitulada "Dez anos da Reforma Psiquiátrica"
           
No campo da saúde mental, a estratégia de educação permanente tem como desafio consolidar a reforma psiquiátrica. Para o alcance deste desafio, os tradicionais programas de educação continuada, destinados a informar os indivíduos sobre recentes avanços em seu campo de conhecimento, devem ser substituídos por programas mais amplos de educação permanente, que visem articular conhecimentos profissionais específicos com o de toda a rede de saberes envolvidos no sistema de saúde. Deste modo, a formação dos profissionais de enfermagem passa a exigir programas interdisciplinares de ensino, que possibilitem análises mais integradas dos problemas de saúde. (TAVARES, 2004)

Outro consenso entre os grupos organizados do Movimento da Reforma Psiquiátrica brasileira é que a 2ª Conferência Nacional de Saúde Mental, foi o momento da virada da orientação do modelo assistencial hospitalar hegemônico por força da mobilização da sociedade civil organizada e, particularmente, pelo fato inaugural da forte presença de usuários e familiares discutindo o rumo e o projeto de saúde mental para o país.

Verifica-se a necessidade premente de se estabelecer processos de educação permanente junto à equipe de enfermagem que atua no campo da saúde mental. Aqui fica a reflexão: em que podemos contribuir para a efetivação da Reforma Psiquiátrica no Brasil? Pense nisso!

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, A. G. O.; ALESSI, N. P. O trabalho de enfermagem em saúde mental: contradições e potencialidades atuais. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.11, n.3, maio./jun. 2003.

CAMPOS, C. M. S.; BARROS, S. Reflexões sobre o processo de cuidar da enfermagem em saúde mental. Rev. Esc. Enferm. USP, 34(3):271-6, set. 2000.

VILLELA, S. C.; SCATENA, M. C. M. A Enfermagem e o Cuidar na Área de Saúde Mental. Rev Bras Enferm, Brasília (DF), 57(6):738-41, nov./dez. 2004.

BRASIL.; Políticas de educação e desenvolvimento para o SUS: caminhos para a educação permanente em saúde. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Brasília, 2003.

FEUERWERKER L.; Estratégias para a mudança da formação dos profissionais de saúde. Cadernos CE, 2 (4): 11-23, dez. 2001.

TAVARES, C. A.; interdisciplinaridade como requisito para a formação da enfermeira psiquiátrica na perspectiva da atenção psicossocial. Texto Contexto Enferm, 14 (3): 403-10, jul./set. 2004.

BRASIL.; Legislação em Saúde Mental 1990-2004. 4ª ed. Ministério da Saúde. Brasília, 2004.

SILVA, A. L. A; FONSECA, R. M. G. S.; Processo de trabalho em saúde mental e o campo psicossocial. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, vol.13, no.3, maio./jun. 2005.

TAVARES, C. M. M. A.; educação permanente da equipe de enfermagem para o cuidado nos serviços de saúde mental. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, vol.15, no.2, abr./jun. 2006.

Texto escrito pelas monitoras Claudia Maria Baroni Fernandes e Claudia Luisa Guras do Programa Proficiência - COFEN.

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